Já é hora de denunciar
Poucas mulheres têm coragem para falar sobre agressões e abusos. Campanha propõe mobilização nacional contra covardia
Vanessa Sendra
redacao@folhauniversal.com.br
Eliana Passarelli, promotora de Justiça Criminal que atua na Vara de Violência Doméstica da zona oeste de São Paulo, aponta que o que impede as mulheres de denunciar é a pressão social e, às vezes, até familiar. “Há ainda a dependência financeira, que faz com que elas pensem que não têm para onde ir; e achar que não vão ser acreditadas, pois não há testemunhas”, diz. Antes de 2006, quando foi promulgada a Lei Maria da Penha para punir os autores desse tipo de crime, não havia nenhuma legislação para defender as mulheres. Segundo o Conselho Nacional de Justiça, até julho de 2010, foram sentenciados 111 mil processos e distribuídos mais de 330 mil procedimentos sobre o assunto. Além disso, foram realizadas 9,7 mil prisões em flagrante e decretadas 1.577 prisões preventivas de agressores.
Para facilitar as denúncias, há Central de Atendimento à Mulher, conhecido por Disque 180. O serviço funciona 24 horas por dia, de segunda a domingo, inclusive feriados, e a ligação é gratuita. Segundo a Secretaria de Políticas para as Mulheres, em 5 anos, o serviço recebeu quase 2 milhões de ligações. A maior parte de mulheres de São Paulo, Bahia e Minas Gerais. Apesar das inúmeras ferramentas, muitas ainda preferem o silêncio.
A Organização das Nações Unidas (ONU) aponta a violência contra a mulher como uma “pandemia global”. Uma em cada três mulheres do planeta já sofreu agressão física ou sexual em sua vida. Ou seja, 70% da população feminina mundial já foi espancada, coagida sexualmente ou vítima de abuso.
Caminhadas e palestras de combate à violência doméstica acontecerão no próximo dia 26, um dia após a data em que se celebra o “Dia Internacional da Não Violência contra a Mulher”. O evento, promovido pela IURD, será realizado em vários Estados do Brasil: São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Minas Gerais, Goiás, Ceará, Amazonas, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Mato Grosso, Maranhão e Distrito Federal.
Em São Paulo, a caminhada sairá do Largo da Concórdia, às 11h, e terá como destino o Cenáculo do Espírito Santo, que fica na Avenida Celso Garcia, 499, no Brás, onde vai acontecer, às 12h, a palestra “Rompendo o silêncio”, sobre violência contra a mulher.
Cresce o número de denúncias, mas não é o suficiente
Toda mulher vítima de violência doméstica pode entrar em contato com o disque-denúncia, ligando 180. Segundo dados divulgados pela Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República, que implantou a central de atendimento em 2005, o serviço registrou 343.063 solicitações nos sete primeiros meses de 2010; em 2009, foram contabilizadas 161.774. O índice de aumento foi de 112%.
O crescimento das denúncias é reflexo de uma maior divulgação do assunto pelos meios de comunicação, do acesso da população às notícias, do desejo das vítimas de manifestar sua indignação e do fortalecimento da rede de atendimento às mulheres.
Colaboraram Ana Paula Araújo e Cristiane Alves
Folha Universal
0 comentários:
Postar um comentário