Violência contra mulher é mais praticada por companheiros ou ex-companheiros | ||
O assassinato de Eliza Samudio se diferencia dos outros “crimes cotidianos” contra mulheres e se torna notícia de primeira página, por ter como acusado um ídolo do futebol, e pela frieza e extrema crueldade com que foi cometido. É muito importante que esse caso seja divulgado, investigado, punido, discutido. E que não se esqueçam que essa já era uma história de violência meses atrás, quando Bruno a ameaçou, a obrigou a tomar remédio abortivo, a agrediu fisicamente. Nem todas as situações de violência conjugal têm esse desfecho trágico. Mas, para muitos homens, a violência contra “suas” mulheres – mesmo quando são ex-mulheres - é natural e aceitável. Do tapinha ao assassinato, são diversas as formas e graus de violência doméstica e familiar contra mulheres. A gravidade do problema fica clara nos números da pesquisa do Instituto de Segurança Pública – ISP, que faz anualmente o levantamento dos crimes contra mulheres registrados em todas as delegacias do estado do Rio de Janeiro. Em sua 5ª edição, lançada recentemente, o Dossiê Mulher (download em www.isp.rj.gov.br) analisa os dados do ano de 2009, e mostra que um total de 50.429 mulheres registrou ocorrência de lesão corporal dolosa, sendo que 51% sofreram essa violência por parte dos companheiros ou ex-companheiros. O estudo mostra também a ameaça (47.027 registros) como uma das principais formas de violência doméstica contra mulheres: cerca da metade dos registros têm companheiros e ex-companheiros como acusados. O crime de homicídio doloso aparece no estudo com 371 vítimas mulheres (6,4% do total), o que significa que, no ano de 2009, praticamente uma mulher por dia foi assassinada no estado do Rio de Janeiro. Chama a atenção o dado sobre a provável relação entre vítima e acusado: 11,3% eram companheiros ou ex-companheiros; 1,3 % eram pais e padrastos; 1,9%, parentes. Somando esses percentuais, podemos considerar que 14,5% das mulheres assassinadas foram vítimas de violência doméstica e familiar. É importante ressaltar que em 45% dos registros não há informação sobre a relação entre vítima e acusado. Portanto, o número de vítimas de violência doméstica pode ser maior. Os números ganham outro significado, para além de percentuais altos ou baixos, quando lembramos que se referem a pessoas, com nomes, rostos, parentes, órfãos. Como Íris Bezerra de Freitas, que teve seu corpo esquartejado pelo ex-marido e jogado no canal do Leblon dentro de uma mala; como Jaqueline Valadão Rios, que foi empurrada da varanda de seu apartamento pelo marido; como Ana Isabel de Sá Sousa, enforcada pelo ex-namorado - para citar apenas alguns casos recentes ocorridos no Rio de Janeiro. A Superintendência de Direitos da Mulher, junto com o Conselho Estadual dos Direitos da Mulher e a Comissão Especial de Segurança da Mulher, tem acompanhado esses e outros casos de homicídio. Também atua no atendimento a mulheres vítimas de todas as formas de violência, articulando a rede de serviços de atendimento a mulheres, composta por centros de referência, com apoio psicossocial e jurídico, delegacias, juizados, defensoria pública. Para que menos mulheres estejam nas próximas edições do Dossiê Mulher, e algum dia essa pesquisa se torne desnecessária. Para que cada vez mais mulheres possam exercer plenamente seu direito a viver sem violência. Cecília Teixeira Soares – Superintendente de Direitos da Mulher da SEASDH / Presidenta do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher |
Cedim RJ
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