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Cada vez mais presentes na vida dos brasileiros, redes sociais contribuem para a busca de provas de infidelidade entre casais na Justiça
Da redação
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Hoje dificilmente alguém vive completamente fora do mundo digital. Somente no Brasil, mais de 87% dos internautas fazem parte de algum tipo de site de relacionamento, segundo levantamento recente do eMarketer, portal especializado em inteligência digital. O impacto da popularização das redes sociais, o acesso livre às câmeras e smartphones já pode ser sentido nas famílias. Cada vez mais essas tecnologias têm papel fundamental na separação de casais. A Associação de Advogados Matrimoniais dos Estados Unidos estima que publicações no Facebook já correspondam a 20% das provas apresentadas por cônjuges na hora do divórcio.
Na opinião de Álvaro Villaça Azevedo, professor de direito civil da Universidade de São Paulo (USP) e diretor da Faculdade de Direito da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), a comunicação pela internet tem aumentado atos de deslealdade e quebra de fidelidade entre cônjuges – recentemente impulsionados por redes sociais e ferramentas de bate-papo. "Pela internet muitas injúrias se cometem, o que enfraquece a convivência familiar em geral. Em particular, as redes sociais têm contribuído para o aumento dos divórcios, facilitando a infidelidade e a deslealdade entre o casal", afirma.
Para a psicóloga Ana Luiza Mano, integrante do Núcleo de Pesquisa da Psicologia em Informática da PUC-SP (NPPI), o fácil acesso e o excesso de possibilidades contribuem para o comportamento inadequado de pessoas casadas ou compromissadas. "Na rede social você pode criar uma fantasia em cima da foto e do perfil, até tomar coragem para falar com o pretendente. E se você manda uma mensagem e a pessoa não responde, já percebe que não está interessada. É muito mais fácil do que fazer isso pessoalmente", afirma. Segundo Ana Luiza, o mau comportamento dos usuários comprometidos é o grande porém das redes sociais.
A advogada Regina Beatriz Tavares da Silva, presidente da Comissão de Direito de Família do Instituto dos Advogados de São Paulo (Iasp), lembra que antes das redes sociais era muito difícil conseguir provas de infidelidade e afirma que muita coisa mudou. "Em meu escritório posso dizer que em cerca de 30% dos processos temos provas oriundas das redes sociais", destaca. Apesar do crescimento, Regina pondera a afirmação de que a internet e os sites de relacionamento incentivam a infidelidade. "O que antes, muito antes de meios de comunicação mais modernos, já ocorria, continua a ocorrer. Se antes o pombo correio levava a mensagem do cônjuge adúltero ao seu cúmplice, hoje o e-mail faz esse papel", afirma.
Fundado em 2004, o Facebook, considerada hoje a principal rede social do mundo, conta com mais de 1 bilhão de usuários. Destes, 37 milhões são de brasileiros. Somente em 2011, a quantidade de brasileiros na rede cresceu 298,5%. O país fica na quarta colocação em número de usuários, perdendo para os Estados Unidos, que possui 157 milhões de internautas, Indonésia, com 41,7 milhões, e Índia, com 41,3 milhões. Todos esses números levam em consideração apenas a rede criada por Mark Zuckerberg.
Paulo Lins e Silva, advogado de família e diretor internacional do Instituto Brasileiro de Direito de Família (IBDFAM), destaca que, embora não seja tão comum entre os brasileiros, quem busca ressarcimento por danos morais ou materiais contra a ex-esposa ou marido encontrou nas redes sociais da internet as provas necessárias para isso. "Muito embora no direito de família atual brasileiro não tenhamos mais a ‘culpa’ como motivação para a decretação do divórcio, nessas mídias se obtêm o enfraquecimento do vínculo afetivo conjugal, motivando o estímulo das partes para o divórcio", aponta.
Traição na rede
O site norte-americano Facebookcheating.com reúne histórias de internautas que foram traídos e descobriram a infidelidade de seus parceiros através da rede social. Um dos usuários, sem identificação, conta que quando voltou de viagem percebeu que a mulher estava fria e distante. Nesse dia, pouco tempo depois de comemorarem 25 anos de casados, ela pediu o divórcio. "Um ano atrás, minha esposa não sabia usar computador, até que seu irmão lhe enviou convite para o Facebook. Foi um começo inocente, mas então ela configurou seu perfil como ‘solteira’. Percebi que gastava horas no laptop. Achava que era muito tempo, mas acreditei nela. Ela dizia que falava com a família no exterior", diz. "O Facebook deve ser chamado Disgracebook [algo como Desgraçabook], já que o casamento não é mais considerado sagrado no site. Não tenho conta no Facebook e não terei", afirma.
Outra mulher, que também não se identificou, fala no site que o marido reencontrou uma antiga namorada e começou a traí-la. "Descobri que ele tinha entrado em contato com uma antiga namorada no Facebook. Ele não trabalhava naquela época, nem ela. Tinham o dia inteiro enquanto eu trabalhava. Acho que Facebook é um modo fácil para os cônjuges fazerem a festa. Começa como uma conversa inocente, mas muitas vezes acaba em divórcio", lamenta.
Folha Universal
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